Crónicas de Montanha por Sofia Barata

Sofia Barata
Quando o sonho se une ao espírito de sacrifício, nada é impossível!
Capítulo 1
Entre Céus e Pontes: A Via Ferrata de Sabero
Onde tudo começa a tremer.
Ter uma experiência de alpinismo era algo que há muito ansiava. Finalmente, a data aproximava-se, mas as previsões meteorológicas não eram as melhores. Receei que não fosse acontecer, mas confiei no conhecimento e experiência de quem estava a liderar o grupo. Por questões de segurança, o programa teve de sofrer alterações: já não seriam 2 dias de alpinismo. No primeiro dia, faríamos uma Via Ferrata e, no segundo, tentaríamos a ascensão ao Pico Espiguete, pelo canal Norte. Pareceu-me perfeito!
1º dia Só quem ama a montanha percebe o que nos motiva a sair da cama às 2h da manhã, às vezes sem ter conseguido dormir, e a viajar durante 6 horas até ao local onde inicia a aventura. Não há sono, mas antes uma energia boa que contagia o grupo.
Na chegada ao local de início da atividade, a Ferrata de Sabero O Valdetorno, ao longe, cada um de nós percebeu o porquê de o guia nos ter dito que era uma das mais longas e imponentes de Espanha.






Já equipados, caminhamos até ao início da Via Ferrata, com um brilho nos olhos, um misto de ansiedade e excitação. Fazer algo tão desafiador só nos dava mais entusiasmo. A escalada da primeira parede parecia não ter fim. A altitude aumentava e, olhar para baixo, para alguns, começou a ser um desafio, mas a vista 360° compensava cada esforço.
Cada passada era ponderada previamente, como num jogo de xadrez; era preciso analisar cada mudança de posição, de pés e mãos, para não correr riscos. A entreajuda no grupo nunca falha. O líder vai à frente, dando as instruções necessárias. Os mais experientes apoiam os que sentem mais dificuldade e, lentamente, todos conseguem ultrapassar os obstáculos.
A travessia das 10 pontes suspensas, que fazem a ligação entre os cumes, trouxe uma adrenalina extra. A mais imponente e ansiada, com 110 m de comprimento, foi um desafio psicológico, superado por todos. As restantes 9 pontes são, na verdade, cabos de aço, onde o caminhar exige uma combinação de força e equilíbrio, e o corpo estremece quando se olha para baixo. Não há tempo para medos, apenas felicidade estampada nos rostos de quem se supera a si mesmo.
E de repente, passaram-se 5 horas em que 11 adultos, de alguma forma, voltaram a sentir-se crianças. De regresso aos carros, a chuva perseguiu-nos, mas nada nos abalava; o dia tinha sido perfeito!



Capítulo 2
Rumo ao Céu: A Conquista do Pico Espiguete
O silêncio antes do cume.
2º dia A subida Norte do Espiguete foi um misto de emoções. Acordar às 5h e iniciar a caminhada até ao local de início da atividade de alpinismo, na escuridão da madrugada, gerava incertezas, pois não sabíamos se as condições da neve nos permitiriam a subida ao Pico.
O nascer do dia na montanha é algo majestoso. Em todas as direções, os olhos captam imagens que ficam na nossa memória. Eis que avistamos as encostas cobertas de branco que ansiávamos por subir.
Para alguns, eu incluído, era a primeira experiência de alpinismo, com crampons, piolet e todo o material técnico. Rapidamente, o grupo entreajuda-se para que todos estejam equipados corretamente. Divididos em 3 cordadas e com todas as regras de segurança transmitidas pelo líder do grupo, eis que inicia mais uma aventura.






Não sei quantas horas passaram porque ali, o tempo não importa. À frente vai o guia mais experiente, desenhando um trilho de degraus na neve, facilitando assim a escalada a todos que o seguem. Cada passada é cautelosamente dada, respeitando o ritmo de quem vai à frente.
A respiração chega a ser ofegante; a exigência física obriga a várias paragens. Nesses momentos, a contemplação do que nos rodeia apaga qualquer dor ou desconforto e só nos dá mais força para chegar ao cume.
Finalmente, avistamos o Pico Espiguete, a 2450 metros de altitude. Ali, sentimos que estamos mais perto do céu; tudo parece estar abaixo de nós, até as nuvens.



A felicidade estava estampada nos 11 rostos que iam chegando ao pico, felicitando-se mutuamente. Conseguimos!
A descida Sul do Espiguete, já sem neve, mas coberta de pedras, foi provavelmente a pior descida de montanha que já fiz. Desconfortável, dolorosa e perigosa. Pedras soltas, pedras ‘movediças’, pedras, pedras, pedras… durante 4 horas.
No final, tudo dói, mas o mais importante é que tudo valeu a pena: as dores, os escorregões, o esforço físico e mental. Quando o sonho se une ao espírito de sacrifício, nada é impossível!
Um abraço final, um brinde com cerveja e o desejo de 11 companheiros deste grupo fantástico pela próxima aventura: 100 Trilhos!



















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